03. ESTAÇÃO

CAPÍTULO TRÊS
estação

POV BELLA

COMO DE COSTUME nesta pequena cidade, as notícias do que aconteceu na floresta se espalharam como fogo. Quando os policiais me levaram para a delegacia, uma multidão de pessoas perturbadas e furiosas estava esperando no estacionamento, me xingando e gritando acusações enquanto os policiais manobravam entre eles para chegar à porta.

Sequestradora!

Você é um monstro!

Pedófila!

Tem um lugar especial no inferno para você, aberração!

Assassina!

Apodreça na prisão!

Prendam a psicopata!

Alguém realmente cuspiu na lateral do meu rosto, e vendo que meus braços estavam puxados para trás em algemas, eu não conseguia nem limpar direito; o melhor que eu podia fazer era esfregar meu ombro contra minha bochecha. Eu apenas mantive minha cabeça baixa. Eu me tornei basicamente um pária nesta cidade quando eu tinha apenas dezesseis anos, então eu estava acostumada a ser encarada e tratada de forma estranha. Mas eu não posso acreditar que essas pessoas realmente acham que eu machucaria uma jovem garota. Eu fui quem a encontrou e a salvou daquele psicopata. Isso não me fez o herói nesta situação? Idiotas do caralho que imediatamente julgaram sem saber a história.

— O que você estava fazendo na floresta tão cedo?

Olhei para a parede atrás deles, ficando mais e mais agitada a cada segundo que passava. A luz naquela sala era tão brilhante que machucava meus olhos e parecia que as paredes estavam lentamente subindo, se fechando sobre mim.

Por horas, os detetives me trancaram nesta pequena e sufocante sala na delegacia, me fazendo as mesmas perguntas repetidamente, perguntas que eu não respondi. Depois do que aconteceu no estacionamento, eu não confiava em ninguém. Não quando todos estavam tentando me culpar por um sequestro e um assassinato.

— Sabemos que você pode falar, Isabella, então pare com essa merda. — disse Necas. Ele era um detetive mais velho e de aparência abatida, e seu desgosto por mim era óbvio. Ele olhou para o relógio pelo que devia ser a centésima vez e olhou para mim. — Estamos cansados. Responda às perguntas de merda para que todos possamos dar o fora daqui.

Respirei fundo e fechei os olhos, batendo os dedos na mesa. Ninguém nesta cidade sabia o quão difícil eu estava. As coisas pelas quais eu passava todos os dias desde os meus dezesseis anos.

Necas se inclinou para frente, seus olhos redondos se estreitando. — Mais uma vez, o que você estava fazendo lá fora?

Quando não respondi, o detetive mais jovem - Noesen, eu acho - disse: — Apenas responda. Não podemos ficar sentados aqui o dia todo.

— Eu moro lá em cima. Vou caminhar todas as manhãs. — eu disse rapidamente.

Eles expiraram ao mesmo tempo e trocaram um olhar.

— E você acabou tropeçando em uma garota em um porão escondido no chão? — a voz de Necas estava cheia de puro sarcasmo.

Eu assenti. — Ouvi um barulho.

— Que barulho? — Noesen perguntou franzindo a testa.

— A menina estava chorando.

Noesen inclinou a cabeça para o lado e me deu um sorriso sinistro. — Talvez você seja quem levou a garota. Talvez o cara que está morto seja quem estava tentando salvá-la. É o que todo mundo está pensando.

Uma risada amarga escapou de mim. — Pare de me ferrar. Eu não fiz merda nenhuma.

— Nós não gostamos de você, Isabella. — Necas declarou friamente. — Nós não gostamos que sua bunda assustadora viva na floresta, e nós não gostamos da sua cara fodida pilotando aquela motocicleta de merda pela cidade no meio da noite e perturbando as pessoas boas desta cidade tranquila.

Eu me inclinei para trás e mastiguei o interior da minha bochecha. — Da última vez que chequei, não era ilegal ser feia, viver na floresta ou andar de moto à noite.

Noesen zombou. — Mas é ilegal assassinar pessoas.

— Foi legítima defesa. Ele puxou uma faca para mim. Ele tinha aquela garota em um porão. Pergunte a ela. Verifique as evidências. Você deveria saber como fazer isso, sabe, considerando que é seu trabalho.

— Bem, isso é engraçado. — Noesen falou lentamente. — Talvez o que você tem seja contagioso porque a garota também não fala.

Eu não a culpei. — Talvez ela não queira falar com vocês dois, seus babacas. — eu disse.

Noesen olhou para mim. — Cuidado, vadia. Por que você estava perseguindo ela quando os policiais te encontraram? Por que ela estava chorando? Tem uma explicação para isso?

— Eu estava tentando checá-la e impedir que ela se machucasse. A garota estava traumatizada, pelo amor de Deus. Ela estava apenas assustada e correr era a única maneira que ela sabia de lidar.

— Ah, é mesmo? — Necas perguntou, levantando a voz. — Porque agora temos um homem morto que deixou para trás uma viúva e dois filhos, uma drogada que o estrangulou, e uma garota aterrorizada correndo pela floresta que foi encontrada em um porão depois de estar desaparecida por mais de dez anos.

— Vai se foder. Eu sou inocente. Quero um advogado. — eu retruquei. Eu estava farto dessa merda.

Foi então que percebi que Noesen era um garoto com quem estudei no ensino médio. Dez anos não foram gentis com ele, pois ele estava ficando careca e não era musculoso como era quando éramos adolescentes. Ele me tirou da cadeira e me jogou em uma cela, onde fiquei andando de um lado para o outro a noite toda até que meu irmão mais velho, Sam, conseguisse um advogado e me tirasse dali. Enquanto eu andava pela pequena cela, meus pensamentos estavam na garota na floresta. Aquele olhar aterrorizado em seus olhos e a maneira como ela segurava aquela mochila me assombrariam pelo resto dos meus dias.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top